Manifestações respiratórias relacionadas a doença do refluxo gastroesofágico DRGE
É a passagem involuntária, do conteúdo gástrico (do estômago) para o esôfago.
Durante a digestão, os alimentos mastigados na boca passam por um tubo muscular, o esôfago, que leva os alimentos até o estômago, onde sofrem a ação das enzimas digestivas e ácidos. No final do esôfago a musculatura é mais firme (esfíncter esofágico inferior) e faz uma pressão para impedir a passagem do suco gástrico para o esôfago.
O esfíncter abre-se para o alimento passar e depois fecha, impedindo que o ele volte. Entretanto, quando esta barreira não funciona bem, permite que uma parte do conteúdo do estômago volte, ou seja, reflua para o esôfago. Como o esôfago não possui mucosa apropriada para contato com esse material ácido, surgem os sintomas do refluxo, em especial a azia e a queimação.
Quando o refluxo gastroesofágico é considerado doença?
O refluxo manifestado pelas golfadas é NORMAL em bebês bem pequenos, esta regurgitação tem um “pico” aos quatro meses de idade e na maioria dos bebês melhora com um ano de vida. Quando os sintomas passam a prejudicar a saúde e surgem manifestações importantes e complicações como: agitação do sono, dificuldade de ganhar peso, falta de apetite, choro intenso por azia causada pela esofagite ou surgem sintomas fora do esôfago, os extra-esofágicos, então o refluxo passa a ser patológico, torna-se a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).
Quais os principais sintomas extra-esofágicos da DRGE?
São as manifestações respiratórias como:
- Broncopulmonares: Associado a Asma (em pacientes geneticamente predispostos), Fibrose Pulmonar e a Dispalsia Broncopulmonar que se manifestam por: tosse, sibilos (chiado), falta de ar, apnéia obstrutiva do sono em adultos, alterações inflamatórias na Pneumonia recorrente, Pneumonite.
- Laringe, traquéia e faringe: laringite, rouquidão, sensação de engasgo, frequentes secura e dor na garganta por laringite recorrente, disfagia, laringomalácea (frouxidão da musculatura da laringe) laringoespasmo (contração da musculatura), gotejamento pós-nasal por estase de secreção, etc.
- Outros: Bradicardia (baixa freqüência de batimentos cardíacos); Evento aparente de risco de morte; Apnéia (parada respiratória). Sinusites; Erosão dentária. O refluxo não é uma causa comum de choro intenso inexplicável e de irritabilidade, mas afastadas as principais causas, deve-se pensar nesta possibilidade.
Porque a DRGE pode causar manifestações respiratórias?
Por dois mecanismos primários:
- Microaspiração do conteúdo gástrico refluído para dentro do trato respiratório resultando em agressão direta da mucosa respiratória por ácidos e enzimas presentes no conteúdo gástrico refluído, o que leva a um broncoespasmo, inflamação com acúmulo de secreção, edema (inchaço), tosse.
- Reflexo esôfago-brônquico desencadeado por estímulo de receptores vagais no terço distal do esôfago. O nervo Vago tem ramos que inervam o esôfago e o trato respiratório, por este motivo pode ocorrer esse reflexo com conseqüente sintomatologia respiratória.
As doenças respiratórias, por um aumento da pressão dentro do tórax e retificação do músculo diafragmático, poderiam debilitar a barreira anti-refluxo e, conseqüentemente, predispor à DRGE.
Quais são os grupos de risco para desenvolver DRGE?
Certas condições como: Doenças neurológicas, Obesidade, Atresia de esôfago ou outras doenças do esôfago, Hérnia de Hiato, Fibrose Cística, História familiar de DRGE.
Como é feito o diagnóstico da DRGE?
A pHmetria esofagiana de 24horas é o exame de escolha para o diagnóstico da DRGE.
Outros exames podem auxiliar, mas não excluem, nem confirmam o diagnóstico. Ex:
- REED- Radiografia esofagogastroduodenal com contraste- serve para afastar alterações anatômicas.
- EDA- Endoscopia Digestiva Alta com Biopsia auxilia no diagnóstico de esofagite, e a biopsia mostrará também se é por outras causas por EX. Esofagite Eosinofílica.
- Cintilografia esofageana- valor diagnóstico muito discutido.
Como é o tratamento da DRGE?
Tratamento Medicamentoso - utilizando-se medicamentos conhecidos como Inibidores da Bomba de Prótons que atuarão na DRGE e nas repercussões extra-esofágicas. Duração mínima de três meses.
Tratamento cirúrgico - é considerado nos casos graves em que o tratamento clínico adequado e medidas falharam ou naqueles que apresentam risco de vida pelo refluxo.
Medidas Anti-Refluxo Gastroesofágico - baseia-se principalmente em algumas mudanças de hábitos e ajustes de dieta como:
- Elevar a cabeceira da cama de 30 a 45 graus. Não é suficiente elevar apenas o colchão.
- Os alimentos administrados à criança devem ser os mais pastosos possíveis- o uso de espessantes evidenciou reduzir visivelmente o refluxo.
- O Leite de Vaca aumenta o tempo necessário para o esvaziamento gástrico e pode piorar o refluxo, evidenciou-se que as fórmulas AR reduzem as regurgitações.
- Deve se diminuir o volume de cada refeição, evitando que criança fique com estômago muito cheio.
- Deve se evitar comidas gordurosas e com excesso de carbohidratos, chá, café, chocolate e bebidas gasosas, tipo refrigerante.
- Não deitar pelo menos 30 a 40 minutos após as refeições, neste periodo a criança deve permanecer de pé ou sentada.
- Não dormir com estômago cheio, principalmente de líquidos.
- Evitar a obesidade.
- Adolescentes: Não consumir álcool ou cigarros.
- Somente para Adolescentes e Crianças Maiores dormir com os pés da cabeceira elevados em decúbito (do lado) esquerdo pode reduzir os episódios de refluxo.
- Em bebês e crianças o hábito de dormir de bruços e de lado está relacionado a maior risco de morte súbita, portanto a posição segura para dormer é de BARRIGA PARA CIMA.
Fonte: A Global –a Based Evidence Consensus on the definition a GERD in the Pediatric Popullation-2009
Pediatric- GERD Guidelines: Join Recommendations of the NASPHGAN and ESPHGAN-2009
Dra. Fernanda Duarte
Alergista, Imunologista e Pneumologista pediátrica
CRM ES 5630. RQE 3761 e 3766
- Graduação em Medicina pela Escola de Medicina Santa Casa de Misericórdia de Vitória
- Residência Médica em Pediatria no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória (HINSG) e em Alergia, Imunologia e Pneumologia Pediátrica no Centro Geral de Pediatria e Hospital Felício Rocho
- Pós graduação em Deficiência Física pela Escola Paulista de Medicina na Associação de Assistência à Criança Deficiente
- Título de Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria