Infecções de vias áreas superiores

Bronquiolite

O que é a via aérea superior?

Ela é formada pelo nariz, seios paranasais- ou seios da face, orofaringe- faringe, amigdalas- laringe.

 

Quais as infecções podem ocorrer nas vias aéreas superiores?

Resfriado, Gripe, sinusite, otite, amigdalite, laringite.

 

Porque as crianças têm mais infecções?

Por que elas ainda estão amadurecendo seu sistema imunológico- que faz a defesa do organismo. A medida que a criança se desenvolve, seu sistema imunológico também amadurece com o desenvolvimento.


O sistema imunológico amadurece junto com o desenvolvimento da criança - Aumenta com a idade

O fato delas estarem em constante contato com outras crianças também contribui para o contágio mais frequente. Na escolinha ou na creche, elas brincam juntas, trocam brinquedos, os colocam na boca, o que facilita a disseminação, principalmente dos vírus.

Por essas razões, é considerado normal a criança ter de 7 a 10 infecções respiratórias virais por ano.

 

Quais as causas mais frequentes das infecções respiratórias da infância?

Existem muitos vírus envolvidos na etiologia das infecções respiratórias, mas os principais são o rinovírus (30-50%), coronavírus (10-20%), parainfluenza, vírus sinsicial respiratório, adenovírus, enterovírus e centenas de outros vírus. Já a gripe é causada exclusivamente pelo vírus Influenza.

   

Quais os principais sintomas IVAS?

Os sintomas são semelhantes, mas a forma de comprometimento é que vai ajudar a distiguir se o quadro é apenas um resfriado, uma gripe ou se sinusite bacteriana por exemplo.



As infecções de ouvido, da mesma forma que a rinossinusite e amigdalite, também podem ser virais ou bacterianas. O que irá distinguir é o comprometimento do estado geral da criança fora do período de febre, os sintomas gripais associados e o aspecto do ouvido externo e membrana timpânica, observado pelo médico. A otite viral pode ser somente externa em alguns casos.

A duração média das IVAS é de 10dias, mas pode se prolongar até por 3 semanas.

 

Como ocorre a transmissão das IVAS?

Pelo contato direto de uma pessoa com outra, através de gotículas difundidas por tosse e espirro ou da própria secreção. As crianças são mais transmissíveis por produzirem uma carga viral mais alta para o vírus influenza durante a infecção. Isso ocorre devido a imaturidade imunológica e pouco contato prévio com o vírus.

A transmissão se dá também pelo contato indireto, ou seja, com superfícies de objetos manuseados por alguém contaminado. Em superfícies lisas, o vírus se mantém vivo por até 48 horas e nas porosas como tecidos e papel, por cerca de 12h. Ele se mantém viável nas mãos por 5-15min após esse conato.

Ao levar a mão aos olhos, nariz ou boca, o vírus penetra através da mucosa do indivíduo e o contamina.

 

Por quanto tempo o vírus pode ser transmitido?

É variável, mas a maioria dos vírus é como o Influenza, em que período de incubação varia 1-4 dias e o período de transmissão se inicia 24h antes de apresentar os sintomas até 7-10 dias após. Em paciente com deficiência imunológica esse período pode ser maior.

 

Qual período do ano as IVAs são prevalentes?

O período sazonal dos vírus respiratórios inclusive o Influenza é o outono Inverno, no Brasil de março a setembro.

 

Existe diferença entre o Vírus Influenza e o Vírus H1N1?

O vírus Influenza tem 3 tipos: A, B e C. O Vírus C causa uma gripe mais branda e não causa epidemias. Já o A e o B são mais epidêmicos.

O vírus A tem algumas particularidades, é responsável pelas grandes epidemias, e conforme as proteínas presentes em sua superfície, hemaglutinina (HA ou H) e neuraminidase (NA ou N), ele tem vários sorotipos, ex.: H1N1, H3N2. Então o H1N1 é uns dos sorotipos do vírus Influenza.

 

Como são as manifestações clínicas da gripe causada pelo H1N1?

A gripe habitual causada pelo vírus Influenza está descrita em quadro acima. Já a Síndrome gripal pelo sorotipo H1N1 se manifesta por início súbito de febre alta e persistente por cerca de 3 dias, seguida de intensa dor muscular, na garganta e na cabeça, prostração, inapetência e tosse seca. Pioram a partir do terceiro dia, com o desaparecimento da febre. Surgem rouquidão, hiperemia da conjuntiva, lacrimejamento, pele quente e úmida, aumento de coriza. Em crianças há aumento dos linfonodos (“ínguas”) cervicais, Bronquiolite e sintomas gastrointestinais.

 

Quais complicações podem surgir da infecção pelo H1N1? Como se caracteriza?

A principal complicação é o comprometimento da via aérea inferior, chamada de Síndrome Respiratória Aguda Grave.

Se caracteriza por evoluir com taquipneia (aumento da frequência respiratória), dispneia (dificuldade para respirar), hipoxemia (queda do nível de Oxigênio), são sintomas de uma Pneumonite pelo Vírus. E pode surgir pneumonia secundária por bactérias.

Pode exacerbar doenças pré-existentes ou causar disfunções orgânicas graves. Miosite (inflamação muscular) dentre outras.

 

Como pode ser feita a prevenção dessas infecções?

  • Evite passar as mãos na zona T: olhos, nariz e boca;
  • Lave as mãos frequentemente, intensifique hábitos de higiene;
  • Cubra a boca com as mãos ao tossir;
  • Faça higiene nasal com lavagem das narinas com Soro nasal;
  • Tome bastante água;
  • Mantenha ambientes bem arejados;
  • A forma mais eficaz de prevenir as formas graves, causadas pelo Vírus Influenza é a vacina anual!
 

Porque mesmo tomando a vacina para Gripe meu filho continua gripando?

Porque a vacina é específica para o Vírus Influenza, que faz a proteção para as infecções mais graves que são causadas por ele. Para as outras centenas de Vírus ainda não existe imunização. E em geral, elas não evoluem com gravidade.

 

Alguns mitos e verdades sobre a vacina para o vírus Influenza:

A vacina é feita com vírus inativado, portanto não transmite infecção.

Cerca de 20-30% das pessoas carregam o vírus influenza sem apresentar sintomas.

Não é suficiente apenas vacinar, é necessário evitar contato com pessoas doentes pelo vírus influenza, intensificar hábitos de higiene como lavar as mãos mais vezes, cobrir a boca com as mãos ao tossir, higiene nasal com soro, etc.

A cada ano o vírus sofre mutações- ou seja, modifica sua estrutura e, portanto, se faz necessário vacinar todos os anos, pois a Vacina é feita conforme se apresenta o vírus.

 

A criança com gripe ou resfriado precisa receber xaropes?

Cuidado! Estudo mostra que medicamentos para gripe e tosse estavam entre as 20 substâncias mais perigosas para causar óbito de crianças abaixo de 5 anos nos EUA. Quando foram retirados do mercado esses medicamentos para lactentes, avisos em rótulos, educação permanente sobre os riscos do consumo desses medicamentos em crianças o resultado foi de queda de cerca de 50% na frequência de atendimentos pediátricos por intoxicações nos PAs americanos.

Por mais que seja tentador “dar algum remédio para gripe e resfriado”, muita atenção! Não existem evidências científicas que recomendem o uso de: Antitussígenos, mucolíticos, expectorantes, anti-inflamatórios e fitoterápicos para esses quadros.

 

E os antibióticos são indicados para as infecções virais?

Existem pelo menos 6 razões para não os usar nesses casos:

  1. São eficazes apenas contra bactérias!
  2. Não combatem o vírus nem impedem o contágio;
  3. Não evitam infecções bacterianas;
  4. Desequilibram a flora intestinal e facilitam a translocação bacteriana para outros órgãos;
  5. Uso indiscriminado contribui para a resistência bacteriana;
  6. Aumentam a chance de desenvolver alergias.
 

Então, o que se pode fazer para as IVAS?

  • Repouso;
  • Aumentar a oferta de líquidos;
  • Analgésico e antitérmico conforme prescrição do médico;
  • Lavagem das narinas com soro nasal ou solução hipertônica;
  • Mel à vontade quando houver tosse.
  • Quando há muita secreção, a fisioterapia respiratória pode ser útil para higiene da via aérea.
 

Existe tratamento específico para combater os vírus que causam as IVAs?

Para a maioria das IVAs não existe um antiviral. Mas, para o vírus Influenza sim, e está indicado para a Síndrome gripal e para Síndrome respiratória aguda grave.

 

Qual a forma correta de fazer a higiene nasal?

  • Faça a lavagem sempre com a criança sentada ou em pé;
  • Use um volume de 2,5 a 10 ml/narina;
  • Coloque a seringa na posição horizontal ou discretamente inclinada para cima;
  • Não aplique força, mas instile o soro de uma vez e avise a criança que ela vai sentir o gosto salgado do soro na garganta;
  • Se a criança souber, pode assoar o nariz em seguida.

Obs. Este mesmo procedimento também pode ser feito com jato contínuo. Existem vários disponíveis no mercado.

 

O que é mais importante você saber?

Mesmo que seu filho seja um príncipe ou sua filha uma princesa, coloca-los numa bolha, isolando-os de qualquer contato não será uma boa ideia! “As infecções próprias da infância é que irão ajudar a desenvolver e amadurecer o sistema imunológico da criança, tornando-a mais resistente”.

É considerado normal a criança pequena apresentar 7-10 IVAs por ano.

90% das IVAs são causadas por vírus e têm evolução favorável. Portanto, nem toda dor de ouvido é Otite bacteriana; nem toda Amigdalite é bacteriana; nem todo catarro é Sinusite; nem toda Febre é infecção bacteriana!

Mantenha medidas adequadas de higiene e a vacinação em dia.

Evite o uso desnecessário de medicamentos.

As crianças agradecem!

Fonte:
Principles of Judicious Antibiotics Prescribing for Upper Respiratory Tract Infections in Pediatrics, American Academy of Pediatrics, 2013
The Common Cold- Principles of Judicious Use of Antibiotics Agents, American Academy of Pediatrics, 1998
Adverse Events from Cough and Cold Medications After a Market Withdrawal of Products Labeled for Infants, American Academy of Pediatrics, 2010
Effect of Honey on Nocturnal Cough and Sleep Quality, American Academy of Pediatrics, 2011
www.cdc.gov/flu/

Dra. Fernanda Duarte

Alergista, Imunologista e Pneumologista pediátrica

CRM ES 5630. RQE 3761 e 3766

 
  • Graduação em Medicina pela Escola de Medicina Santa Casa de Misericórdia de Vitória
  • Residência Médica em Pediatria no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória (HINSG) e em Alergia, Imunologia e Pneumologia Pediátrica no Centro Geral de Pediatria e Hospital Felício Rocho
  • Pós graduação em Deficiência Física pela Escola Paulista de Medicina na Associação de Assistência à Criança Deficiente
  • Título de Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria